quarta-feira, novembro 10, 2010

Prosa sem prosa

A noite cerra-se sob o meu olhar
Instável e abandonado ao sabor do fado
Onde caiem punhais ao mar
E a névoa dos namorados.
À superficie das coisas, apenas o pó
Inquietude da vida, e de seus impropérios
Um eterno fumo branco
E o descoroar da juventude
Que assobia canções contundentes.
Muita coisa começou assim...
Um punhal
A matar os sonhos, uma pedra a esmagar
O meu amor contra o mundo.

Mais tarde, e sempre mais tarde,
O silêncio da morte
Como o inferno,
Começa sempre com os outros.
Encosto o rosto às quimeras da infância,
Para exorcizar a inocência perdida
E rodopiar, sobre os sonhos,
A valsa solitária da criança
Que sempre fui ...
Quando as minhas mãos, antes quentes do sol,
Eram ninhos de aves de múltiplas cores.
Páro no tempo do tempo
Para todos os relógios escutar
A respiração ofegante dos dias (sempre iguais)
E, como uma actriz que se esgota na personagem,
Rasgo o cenário e danço, danço
Como uma louca, ao seu redor,
Com fitas entrelaçadas nos meus pulsos.

Trago nas mãos o frio da ausência
E os olhos opacos, sem qualquer brilho ...
Não há saida mais para este beco,
Tudo perdido, tudo consumado...
O que há sob esta máscara é um pranto seco...