segunda-feira, agosto 14, 2006




LOUCURA?

Tenho um sonho e um grito
Aqui dentro de mim
Tenho um cansaço e um abraço
Em tudo o que faço assim
Tenho a loucura do desejo
De ver o que não vejo
De sentir o que não sinto
De ser o que não sou
Tenho uma vontade louca
De tirar a roupa
Andar por aí
E abrir a janela
Ascender uma vela
E contar as estrelas
Tenho este sonho que invento
Que se perde no espaço
Soprado pelo vento
Tenho nos lábios um conto
Que me faz feliz e encanta
Tenho um poema que me diz
Que poeta eu não sou
Que mulher também não
Sou um pedaço do céu
Um grito do coração
Tenho o nada e o tudo
Que não me contenta
Mas que foge de mim
E se ausenta ...

domingo, agosto 13, 2006


DUALIDADES II

Prazer.
Ardor.
Arder.
Amor.
Foder
Atar.
Beijar.
Acariciar.
Fundir.
Gemer.
Unir.
Assar.
Partir.
Amassar.
Doer.
Trepar.
Castigar.
Enlouquecer.
Bater.
Roçar.
Morder.
Libertar.
Soltar: a vida; o espírito; o corpo; o tudo.
Chorar.
Sofrer.
Acreditar.
Desejar.
Querer.
Ser.
Estar.
Parecer.
Crer.
Sonhar.
Elevar: o vício; a mente; a alma; o vazio.
Sorrir.
Ficar.
Resistir.
Acarinhar.
Permanecer.
Cruzar.
Fugir.
Gritar.
Sorver.
Enroscar.
Desaparecer.
Fumar.
Embriagar.
Zarpar.
Libertar: o coração; a razão; a tesão; o nada.

sábado, agosto 12, 2006


DUALIDADES

Para quê possuir o sol
Se existe a lua
Desejar o luar
Quando se tem a luz
O sol não é sempre igual
É aurora no despertar
É radioso ao meio dia
É implacável, arrogante e enfadonho no pico
Quando já vai alto
É romântico e quase mágico no entardecer
E já em jeito de despedida
Se prepara para adormecer
E ceder lugar à lua
Essa poderosa mentirosa
Nas suas diversas faces
É invejosa em quarto minguante
É generosa em quarto crescente
É renovadora quando lua nova
É voluptuosa em lua cheia
Repleta de sensações e pecado
Recheada de vontades carnais
Esboço de desejos
Fazedora de sonhos
Trampolim de excitações
Inimiga do sono
Aliada das paixões
Companheira dos amantes
Ganhadora de corpos
Eu também, meu amor
Sou assim ...
Sou noite, sou dia
Sou sol, sou lua
E no sol.. trago mil soís a brilhar
E na lua... mil faces de luar
Pertenço-te, mas não sou tua
Gosto de ti, mas sem te amar
Pois é meu amor
Eu sempre te disse...
Depois das trevas, vem o que reluz
Na própria luz esconde-se a escuridão
Por vezes sou anjo celestial e puro
Outras vezes demónio cru e duro
Se vivo na luz desejo as trevas
Se habito na escuridão (pers) sigo a luz
Se estou no inferno quero o céu
Se fico na condenação do breu
Busco o paraíso e a redenção

quarta-feira, agosto 09, 2006


DELPHINA

Delphina de nome
Delphina de corpo
Pequenina, delgada e fina

Lembro-me de Ti
De teu corpo tão pequenino
De mulher criança
Espalhando mimo
De criança mulher
Buscando uma nova esperança

Lembro-me de Ti
Da tua pele curtida pelo sol
No teu rosto as marcas deixadas pelo tempo
Pelas tristezas e alegrias
Pela vida, passado e presente dos anos

Lembro-me de Ti
Das tuas mãos calejadas das lides e do campo
Mãos pequeninas e contudo fortes
Engelhadas e àsperas
Mas prontas para trabalhar e lutar
Sempre para dar e receber

Lembro-me de Ti
Do teu sorriso harmonioso
Quase tímido e sempre tão calado
Mas contudo radioso

Lembro-me de Ti
Do brilho do teu olhar
Que tentava ocultar a dor
O luto e a morte espantar
Nessas cortinas castanhas e opacas
A realidade da vida ofuscar

Lembro-me de Ti
Do teu cheiro a terra
Pinheiros, sol e a ceara
Do leite acabado de ferver
Da cevada pronta a beber

Lembro-me de Ti
Dos teus abraços tão ternos
Na minha doce infância
Dos teus pquenos presentes eternos
Nas mãos de uma criança

Não me lembro
Do som e entoação
Que tinha a tua voz
Imagino que fosse doce como o mel
Na tentativa de disfarçar
O permanente travo a fel
Que trazias e que querias evitar
E também aquele grito na garganta
Que pretendias calar

Lembro-me de ti
De quando te penteavas frente espelho
Cabelo longo, enfraquecido e branco como a neve
Desembaraçavas os fios esbranquiçados
Com a ajuda de uma "travessa"
Num gesto sábio e experiente
Fazias um belo chinó
E voltavas a colocar o lenço preto
Ficava a matutar o porquê de alguém
"Perder tempo" a arranjar o cabelo
Para logo a seguir o esconder!

Lembro-me de Ti
Sempre trajada de negro
Em homenagem à morte
Para recordar a dor e o sofrimento
Um dia perguntei-te o porquê
Desse teu vestir de preto
"Estou de luto"
Mas passaram mais de 20 anos retorqui eu
«Para mim não passaram...
É como se fosse hoje» respondeu-me
Com um tom grave e enigmático
O olhar perdido e vazio
Notei os olhos a ficarem opacos
Ia jurar que tinha contado uma lágrima
«Não há nada que apague a dor
Da morte de um filho... quanto mais de dois...»
E como isto olhou-me com ar sério e de enfado
Como quem dizia
"Nina, não são contas do teu rosário"
Nunca mais a inquiri
Sobre o estranho fado
De vestir de negro
Soube ali que seria até ao fim
Na vida e na morte

Lembro-me de Ti
Lutadora, corajosa
Dura, séria e grave
Meiga e verdadeira
Vencedora das agruras da vida

Lembro-me de Ti
Esposa, mãe, avó
Mas sobretudo MULHER
Com fibra beirã
Mulher das serras

Lembro-me de Ti
Sei que sonho na mente
Sei que te levo na alma
Sei que te guardo no coração
Sei que te tranco no peito
Sei que te transporto nos genes
E não é sem razão
Que te trago no sangue
Que corres nas minhas veias
E enquanto eu viver
Vou lembrar-me de ti
MULHER, minha Delphininha