terça-feira, maio 16, 2006

JANELA ABERTA
Fico aqui à tua espera e temo que já não venhas.
Fico à tua espera, mesmo sabendo que já não vens.
Fico aqui sentada à espera, à espera do nada e de ninguém.
Sei que não vens, mas mesmo assim fico. Ainda te lembrarás de mim? Fico.
Não me perguntem nada, não me macem, deixem-me ficar apenas... só com os meus próprios pnsamentos.
Fico ao frio desta noite gélida das duas da manhã de uma noite de Maio, perscrutando a escuridão do alto da varanda. Fico à mercê do vento que me revolta o cabelo e me arrefece os ossos. Fico à varanda, fumando aspirando este cigarro, único farol de mim.
Desde que saíste eu nunca mais fui a mesma. Quando cheguei e não estavas não me encontrei. Procurei-me e procurei-me, mas em vão.
Não sei de mim, onde me terei guardado, onde me terei metido.
Não sei de mim. Se calhar levaste-me.
Procura recordar-te, vê se te lembras. É importante para mim.
Faço-me falta. Pensa bem. Tenta recordar-te.
Comigo terás levado também aquela minha saia curta berrante que agora não sei usar. E aquela gargalhada aberta, que tão bem me fazia.
Procura bem nos bolsos do casaco. No bolso de trás das calças onde eu me metia quando passeávamos pela rua agarrados.
Procura-me entre o teu cabelo, vê lá se não é a mim que ainda cheira o teu cabelo.
Procura-me bem no teu peito, pelas vezes que nele adormeci em tantas noites de televisão. Procura-me no teu olhar. Não é outra senão eu quem ainda vês, sentada de costas para ti nessa esplanada, onde por acaso te apanhei distraído do jornal.
Procura-me nas tuas narinas. Diz-me lá se não é a mim que te cheira a camisa que vestes pela manhã.
Procura-me nos tuas mãos, aonde tantas vezes de mãos entrelaçadas entre os nós dos dedos percorremos o caminho da quase plenitude.
Procura-me nas tuas pernas, quantas vezes não as tactei indelevelmente, quase secretamente no intuito de me perder...
Procura-me na tua boca. Não sentirás ainda uma réstia da minha língua com sabor a a menta e hortelã, nos teus lábios mornos entreabertos?
Procura-me no teu sorriso
Não voltas eu sei, mas ao menos devolve-me, ainda me tens?
O seu a seu dono, devolve-me quero voltar para mim.