Nas ruas de Paris dos finais do século passado, raparigas e velhotas vendiam raminhos de violetas e amores-perfeitos para os cavalheiros oferecerem às damas. Hoje em dia oferecem-se outras flores, e as violetas e os amores-perfeitos ficaram esquecidos (são as minhas preferidas)
É a flor do amor por excelência e na linguagem das flores quer dizer “penso em ti”.
E se, de repente, o meu coração explodisse e o teu olhar, contra o meu olhar, fosse a razão dessa cor-luz, início e fim, em si mesmos, exacto momento da celebração do nosso amor, cratera, vale, precipício, novamente olhar e cor-luz, finito, infinito, campo desbravado e por desbravar, floresta, cheiro, madrugada sempre adiada, o gesto cego de ver, o milésimo de segundo em que depositas um beijo nas minhas mãos, o desejo aqui, salpicado por nuances carmim, a aridez da pele e dos dias, sorrisos, a maneira precisa com que me segredas o caminho, a beleza serena que me fazes sentir.
E se, de repente, o teu coração explodisse e o meu olhar, contra o teu olhar, fosse a razão dessa luz-cor, início e fim, em si mesmos, exacto momento em que nos encontramos, monte, planalto, encosta plana, novamente olhar e luz-cor, aqui, agora, o princípio e o fim do que vem depois, búzio, flor, cacto, vinho tinto a cheirar a fruta madura, a certeza do acto, o gesto certo de ver, o milésimo de segundo em que deposito um beijo nas tuas pálpebras, o desejo pontilhado de violetas e lírios azuis, a lentidão da pele e dos dias, sorrisos, a maneira indecisa como te sussurro o teu nome, o mistério profundo da tua imensidão e do teu carinho.
E se, de repente, o tempo se transformasse numa linha vertical contínua, e o teu olhar, contra o meu olhar, fosse hora-minuto-segundo ou segundo-minuto-hora, forma inversa do desejo, aqui, ali, o desejo aqui e ali, um riacho a correr, um riacho parado, ou uma parede a abrir brechas, pequenas, uma parede a abrir brechas maiores, a respiração lenta e pesada, o corpo louco de ti, e de mim, a soma de dois, a divisão de um, tudo o que há e não há, a pequena-grande loucura da felicidade.
E se, de repente, o tempo se transformasse na ausência de si mesmo, e o meu olhar, contra o teu olhar, fosse o teu olhar, contra o meu olhar, forma precisa do desejo, universo, árvore ao vento, seixo redondo, figura geométrica infinita, os corpos opacos, as almas translúcidas, o gesto, a leveza, o contrário do gesto e da leveza, os sinais, as linhas, os caminhos, a beatitude de não ter que os percorrer, a soma de dois, a divisão de um, tudo o que há e não há, o princípio, o fim...
P.S.: O stress causa-me incontinência "verbal", meros distúrbios mentais e/ou será que é a (minha) intensidade à flor da pele e na ponta dos dedos ... :S