quarta-feira, agosto 05, 2009

O que ando a ler...

Principia desta forma, a belíssima narrativa deste livro:

Imagina que te escrevo em voz baixa. Falamos sempre baixo quando queremos que acreditem nas nossas palavras. E tudo o que aqui escrevo é verdade.
Escrevemos porque ninguém ouve. Escrevo-te porque estás longe, numa cidade onde o nevoeiro roubou o ar ao sol e as pessoas pensam mais do que sentem. Se ao menos estivesses aqui ao meu lado, passava-te a mão pela nuca, puxava-te ligeiramente os caracóis e então tu fechavas os olhos de prazer e eu sentia-te próximo. Mas isso agora não é possível…”
“Espero por ti porque acho que podes ser o homem da minha vida. E espero por ti porque sei esperar, porque nos genes ou na aprendizagem da sabedoria mais íntima e preciosa, há uma voz firme e incessante que me pede para esperar por ti. E eu gosto de ouvir essa voz a embalar-me de noite antes de, tantas e tantas vezes, te encontrar nos meus sonhos, e a acalentar-me de manhã, quando um novo dia chega e me faz pensar o quão longa e inglória pode ser a minha espera.”
Quando estou aqui sentada, a namorar o mar e a escrever este diário por ti e para ti, porque é mesmo para ti, meu querido, longínquo e quase impossível amor, sinto-me feliz e não me sinto só. Sei que a minha crença inabalável, a minha energia amorosa e o meu desejo eterno por ti irão alcançar-te e tocar-te de alguma forma. Não me perguntes como, mas sinto que é possível. Gosto de acreditar que tenho o dom de tornar realidade as minhas ficções. E, neste momento, tu és a minha mais bela ficção, um sonho que acalento como uma criança que cresce, sabendo que a espera será grande, será arriscada e ninguém sabe se será frutífera. O objectivo não é o mais importante, mas sim o caminho que se percorre para o alcançar.
Somos nós, com os nossos passos, que vamos fazendo o nosso próprio caminho. Há quem corra demasiado depressa e perca a alma no trajecto, há quem mude de ideias e arrisque um atalho, há quem não saiba escolher a melhor direcção quando chega a uma encruzilhada, há quem deixe pedras pelo caminho para não se perder, se precisar de voltar para trás.
Não sei que espécie de caminhante sou, para onde vou, não sei. Nem sei para onde vais. Nem tu sabes. Pode ser que um dia acordes com uma luz nova, uma força desconhecida que te vai trazer até mim… Sei que há uma força estranha que me faz correr para ti, embora nunca, em nenhuma circunstância, corra atrás de ti, porque não posso, não me é permitido interferir no teu destino e mudar o curso da tua vida. Isso, terás que ser tu a fazê-lo, por ti e para ti, se assim o entenderes. Será que sentes a mesma força? Quero acreditar que sim, mas no fundo começo a sentir que não…”

Margarida Rebelo Pinto em "Diário da tua ausência"

PS: A polémica, fundada ou não, de plágio, em que se viu envolvida a escritora, não retira o mérito ao livro, goste-se ou não do género. Adoro ler, sempre gostei! Sempre que passo perto de uma livraria não deixo de entrar, adoro sentir o cheiro dos livros. Passeava, na Fnac quando sem querer uma, original, capa me prendeu a atenção. Aproximei-me para ler o título “Diário da tua ausência”, estranhamente soube que teria a ver comigo, com a capacidade de colocar nas palavras as emoções, dar voz ao sentir. Que estas poderiam ser as palavras que eu escreveria ao meu Amor se tivesse a faculdade de o conseguir. Nele está incrivelmente (bem) (d)escrito o amor que eu sinto pelo meu Amor ausente. Eu espero, eu sei esperar… ainda que esse dia, por que espero, não chegue nunca, eu vou esperar! Alguns chamam-lhe ilusão ou obsessão, eu chamo-lhe… simplesmente Amor!

2 comentários:

Blue Moon disse...

Nina,

Tens uma grande capacidade de colocar as emoções nas palavras. Basta ver este teu "PS" (com muita emoção) e seguir o teu blogue. Não precisas de quem o faça por ti.

Mas até quando estás disposta a esperar por um Amor Ausente?

nina disse...

'ad aeternum' ou até me esquecer de esperar - tipo Alzeimer ...