terça-feira, fevereiro 02, 2010

(tão só é) Amar

Diante da minha incapacidade, permanente e latente, para traduzir em palavras o que me vai na alma, recorro-me do poeta. E não há motivo para não admitir a maior e mais bela de todas as dávidas e faculdades humanas. Afinal, amamos sem saber porquê, quem ou o quê... Somente sabemos que dependemos desta condição, seja ela qual for... Amamos o que está aos nossos pés e amamos o inalcançável e inimaginável... Simplesmente amamos, mas desengane-se quem pensa que é assim tão simples...

Amar

Que pode uma criatura senão entre criaturas, amar?
Amar e esquecer?
Amar e malamar
Amar, desamar e amar
Sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
Sozinho, em rotação universal,
se não rodar também, e amar?
Amar o que o mar trás a praia,
O que ele sepulta, e o que, na brisa marinha
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amor inóspito, o áspero
Um vaso sem flor, um chão de ferro, e o peito inerte,
e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este é o nosso destino:
amor sem conta, distribuído pelas coisas
pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor
Amar a nossa mesma falta de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito e a sede infinita.

Carlos Drummond de Andrade




P.S. Uma coisa é certa: só merece o nosso amor e a nossa dedicação, uma coisa só ... aquele (a) que consegue despertar algo no fundo dos fundos da nossa alma. Quem o sente não o pode expressar em palavras. E quem não o sente, não poderá nunca conhecê-lo através de palavras. Afinal não são os corpos que aproximam as almas, as almas é que levam os corpos à união! Porque amar é o mais elevado nível de consciência que possamos ter...
Faço votos para que aprenda(s) a amar as tempestades em vez de fugir delas!

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