Mas já me perdi, não era nada disso que queria falar! Queria tentar partilhar a minha inquietação sobre uma das construções dessa cultura pós-moderna do amor: o homem sensível. Eu cresci a consumir essa figura (mais um dos legados pós-80). Na época, eram Dustin Hoffman, Al Pacino e Wood Allen, todos baixinhos e de óculos, em cenas de choro e monólogos de demonstração de fragilidade.
Contrapunham-se drasticamente à imagem do macho dominante, bruto e arrebatador das décadas anteriores (como Clarck Gable, cínico e sedutor, a roubar os beijos de Scarlett O’hara)... Mas, não dava mais para esses tipos conviverem lado a lado com as novas mulheres - working girls -, cada vez mais incisivas e "invasoras" no universo masculino. Daí, surgiram expressões como “ocaso masculino”, "inveja do pénis", etc. (LOL). É incrível como a construção de certas personagens são pertinentes à época em que emergem!
Lembro-me do livro de Anais Nin, na prateleira da minha sala, : “Em Busca do homem sensível” - não confundir com essa moda dos livros (lixo) de auto-ajuda para mulheres, tão comuns hoje em dia -... eram crónicas e palestras da escritora. Uma delas falava desse novo homem, que surgia das alternativas de convivência propostas pela geração hippie, não me lembro exactamente das palavras com que ela o descrevia, mas sim de alguns exemplos, como o de um jovem casal que viajava de moto pelo país, partilhando da pouca comida e das dificuldades. Nin exultava essa mudança de paradigma masculino como uma consequência das revoluções sociais, sem manipular nem puxar a sardinha para o mito do protagonismo das mulheres, as “invasoras” do mundo público de então. Para ela, o homem sensível não era simplesmente um macho ferido, mas alguém capaz de caminhar lado a lado, ciente das desigualdades ...
Cá para os meus botões, pergunto-me se não serei da geração que viu no “homem sensível” um novo rótulo do príncipe encantado. Como toda a romântica incurável, fiz planos com eles, apaixonei-me pelos personagens nos filmes que via... na maioria das vezes não deu certo, porque os rótulos, infelizmente, boiam na água ou rapidamente despelam sob temperaturas mais agudas... À primeira crise, desfazem-se e ...bye, bye.
Sinceramente, tenho a sensação de que a maioria dos homens não se esforça em ser mais do que aquilo que é... não se preocupa em cativar, surpreender, em fugir do lugar comodamente sentado (do macho dominante). Se a sensibilidade casualmente acontece, ok. Se não, tudo bem, não estão nem aí... e ainda gozam com os "sensíveis" apelidando-os de "gay"! Mas homem que é homem não chora por isso agem como se, cumprido o clichet, fosse o suficiente, comportando-se como se apenas pelo facto de existirem fosse um grande favor, um serviço prestado à humanidade com a população feminina excedente. (E eu é que sou chata e exigente! - Demais. Impiedosa! - Quase.)
Interrogo-me até que ponto Anais Nin tinha razão. Ou se foram apenas os filmes, músicas e livros que vi, ouvi e li, que me lançaram nesta expectativa extra normal. Porque ...confesso, não tenho paciência para os não-sensíveis nem acho piada nenhuma a esse vai-e-vem nauseante das relações líquidas - reluzem como uma gota de água por um lampejo de segundos, mas logo se espatifam na placidez do oceano, retomando uma busca contínua, que não cessa...
Talvez eu seja apenas pessimista. Talvez não tenha tido muita sorte. Talvez a busca tenha apenas começado. Quem saberá responder?... Espero mesmo que seja apenas o incómodo dos calos na minha desiludida dor de cotovelo. .. Mas eu … confesso …gosto de homens sensíveis... porque os homens também choram e precisam de colo!
Um comentário:
"Mas eu … confesso …gosto de homens sensíveis... porque os homens também choram e precisam de colo!"
Ainda eu ía a meio da leitura e já estava a pensar isto mesmo.
Gosto de sentir certa sensibilidade da parte deles, sim, mas sem exageros. Afinal de contas, não sou tão sensível que queira alguém como ou pior que eu.
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