terça-feira, abril 24, 2007

AS PORTAS QUE ABRIL ABRIU


(Foto de Victor Valente)


O 25 de Abril trouxe a LIBERDADE, mas às mulheres trouxe algo mais: trouxe os DIREITOS que antes nos eram vedados, serem finalmente reconhecidos - a IGUALDADE de direitos entre homens e mulheres foi finalmente consagrada na Constituição, que entraria em vigor no dia 2 de Abril de 1976, e que consagrou, no artigo 13º, o princípio da IGUALDADE: “Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a Lei” e “ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou condição social”. Penso que esta foi a PEDRA FILOSOFAL e o legado que os nossos pais nos deixaram, apesar de passados 33 anos persistirem ainda tantas desigualdades politico-economico-sociais!.
Pasmem-se aqueles que tiveram o privilégio de nascer no pós 25 de Abril, e que acham que estes acontecimentos são do século passado, mas havia: muitos livros, filmes e canções proibidos, a comunicação social era reprimida pela censura, o divórcio não era permitido, não havia direito de manifestação ou greve, a maior parte da população não dispunha de frigorífico, telefone, televisor ou casa de banho (bens de 1.ª necessidade hoje em dia), não se podia criticar o poder, era preciso licença para ter isqueiro ou rádio a pilhas, a Coca-Cola era de contrabando, a taxa de mortalidade infantil era de 37,9%, 36,2 % das casas não tinha electricidade, 52,6% não tinha água canalizada, a taxa de analfabetismo era de 33,7%, a P.I.D.E. encarregava-se de manter o país bem vigiado, eram proibidas as manisfestações de carinho e beijar em público (punido até com multa, dá para acreditar??!!!), porque era uma ofensa grave aos bons usos e costumes), outra coisa que se vivia no dia a dia nas escolas era a proibição de as mulheres usarem calças e a imposição de usar sempre soquete (mesmo nos meses de mais calor), as mulheres necessitavam de ter uma autorização por escrito do marido, para poderem trabalhar, não podiam fumar em público nem ir ao café, a não ser que fossem acompanhadas pelo marido, a emigração em massa (mais de um milhão de portugueses que sairam de Portugal em busca do El Dorado ou para fugir à guerra do Ultramar, ou ao regime) e tantas coisas mais, que actualmente nos parecem tão absurdas e obsoletas!!!.
Não esquecendo a GUERRA DO ULTRAMAR, em que chegaram a estar mobilizados para o combate (do lado português) cerca de 150 mil homens. Na Guiné (1963/1974), em Angola (1961/1974) e Moçambique (1964/1974), a Guerra Colonial fez cerca de 8.800 mortos e deixou com deficiência permanente cerca de 15.500 portugueses. Muitos homens que foram mobilizados para a Guerra: ali combateram, sofreram, sonharam com o regresso, fizeram amizades que o tempo não apagou, muitos morreram e nunca mais regressaram, alguns nem sequer chegaram a conhecer/ ver os filhos que entretanto nasceram, tantos orfãos, famílias desmembradas e enlutadas, os que tiveram a sorte de regressar vieram com presentes envenenados de tantos traumas de guerra, alguns não se adaptaram à nova realidade, foram esquecidos porque era TABU falar do passado esquecido e ostracizado. Não esquecendo os milhares de "RETORNADOS" que viram as suas vidas desfeitas, terem de recomeçar do zero num país "estranho e mais atrasado", com uma cultura que já nada lhes dizia e um povo "diferente" que os olhava com "maus olhos", porque vinham na certa "roubar-lhes" a terra, o pão, o trabalho, as casas e traziam costumes estranhos, gentes de "cor diferente", que os miravam com desconfiança e sempre de pé atrás.
Ainda bem que tudo isto e muito mais mudou, mesmo se este cantinho à beira-mar plantado não é o País das maravilhas.
A revolução dos Cravos faz-me sempre meditar sobre estas PEQUENAS GRANDES coisas, porque para mim foi o SOPRO DOS VENTOS DA MUDANÇA. Ainda bem que pude crescer num país LIVRE e que o espírito da REVOLUÇÃO se mantenha!.

Deixo aqui um excerto (o original é muito longo) de um poema de José Carlos Ary dos Santos - Lisboa, Julho-Agosto de 1975.

http://www.pcp.pt/actpol/temas/25abril/30anos/portas-abril-abriu.htm

«...
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente
... »

Um comentário:

Elfo disse...

Quarta-feira, 25 de Abril de 2007
Freedom Day

We are celebrating a holiday here in Portugal.

It is Freedom Day!

33 years ago a military coup put an end to a 48 year old dictatorship in Portugal. It was the beginning of the "third wave of democratization" as Samuel P. Huntington called it. The coup was followed by two years of political and social turmoil. There were constant friction between liberal democratic forces and communist ones. The African colonial wars ended and the colonies got their independence (a handover of power with no free elections). And the Portuguese people and politicians had to learn how to live with the rules of democracy.

Those were hard times.

But today we live in a liberal democracy. And we enjoy freedom.

For the Bahá’í Community the Revolution meant the end of oppression and persecution by the former political police. At last we were free to gather, to teach the Faith,… we were free to be Bahá'ís. In 1975, the Baha’i Community of Portugal was official recognized as a religious community.

As a Bahá’í celebrating Freedom Day, my thoughts are with those followers of the Baha’i Faith in other countries who do not enjoy freedom. I hope they will live to celebrate a holiday like Freedom Day.