segunda-feira, novembro 17, 2008

Rito moçárabe ou hispano-visigótico




Há muito tempo que não assistia a uma missa, ou sequer entrava numa igreja.
No sábado pelas 18h teve inicio na Sé Velha (Coimbra) a missa em rito moçárabe.
Os bancos estavam repletos de gente fascinada, tal como eu, e muitos tiveram de assistir de pé à missa da Virgem Santa Maria em rito moçárabe, acompanhada com música medieval a cargo do Coro Alberto Seiça. Senti-me em paz comigo mesma, com os outros, teletransportada para outra época, durante uma hora e trinta minutos o mundo actual que eu conheço (?) deixou de existir viajei até à idade média!
Fechei os olhos embalada pelo canto divinal...

[A primeira iniciativa do programa comemorativo dos 500 anos do retábulo gótico da Catedral Histórica de Coimbra serviu de chamariz para um povo que se percebeu não estar habituado a frequentar o templo, tantas foram as cabeças viradas para o tecto e os olhos fascinados com a rara beleza do espaço de culto.
Os «300 e tal livros», que tinham na capa a Iluminura Moçárabe do Apocalipse de Lorvão, datada do século X e guardada no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, preparados para a cerimónia esgotaram num ápice. Estiveram, seguramente, mais de 400 pessoas dentro de um espaço, por norma, pouco frequentado à hora da eucaristia. «Uma moldura humana condizente com o valor histórico da Sé Velha» ouviu-se entre os presentes.
Após monsenhor João Evangelista, pároco da Sé Velha, ter explicado não ser a missa que muda, mas a forma externa de a apresentar, o frei Geraldo Coelho Dias, que presidiu a celebração, sublinhou que «apesar do aparato que aqui vemos, não é para, verdadeiramente, fazer ou ver um espectáculo». De seguida, o monge beneditino deu conta que onde se ergue, desde há 824 anos, a Sé Velha, que disse ser uma «jóia de arte românica», existia uma pequena igreja moçárabe.
O beneditino revelou que «o rito moçárabe surgiu depois da conversão dos visigodos ao cristianismo, no período entre os séculos VI e XII». Geraldo Coelho Dias afirmou que «a Igreja tem passado e tem futuro», lembrando que «a Igreja antiga, além de defender a unidade, privilegiava as características dos povos e as suas origens». Segundo a organização do programa comemorativo, a missa em rito moçárabe representa, também, «a preocupação de uma liturgia de qualidade».
Atenta à realidade histórica, a Sé Velha, ao promover a celebração da missa de Santa Maria de Coimbra em rito moçárabe, pretendeu, «simbolicamente, enaltecer este período que antecedeu a formação do reino de Portugal e que marcou, profundamente, a nossa identidade». «Homenagear todos quantos dedicaram as suas vidas à administração, ao exercício do poder e à sociedade em geral numa exemplar afirmação de cidadania», foi outra pretensão alcançada.
Ontem, no livro distribuído aos fiéis podia ler-se a seguinte nota: «O rito moçárabe, ou hispano-visigótico, foi abolido no Concílio de Burgos no ano de 1080. A Sé Velha de Coimbra - o templo actual - abriu aos fiéis em 1184. É assim de admitir que nesta igreja, como hoje a conhecemos, nunca tenha sido celebrada uma missa em rito moçárabe». Por tudo isto, o dia 15 de Novembro de 2008 entrou para a história da Catedral Histórica de Coimbra, que deu, ontem, mais um passo rumo à sua dignificação e valorização.]

João Henriques in "Diário de Coimbra"

Próximos eventos para quem quiser ir:
  • 25 de Novembro Conferência: "Retábulo Gótico – 500 Anos" Pato Macedo - 18h30
    1 de Dezembro Concerto de Natal “9.ª Sinfonia”Ludwig Van Beethoven" - 18h30
  • 7 de Dezembro Homenagem à Rainha Santa - 11h00


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