sábado, março 31, 2007

DEVANEAR


(Foto de Olga Gouveia)

Devanear...

(De de- + lat. vanus "vão" + suf. -ear)
Deixar-se levar pelo sonho, pela imaginação; pensar livre, difusamente. DIVAGAR, FANTASIAR, SONHAR.Dizer coisas sem nexo. DELIRAR, DESATINAR, DESVAIRAR.

Sente nos lábios rubros da manhã
Molhados de sal e orvalho
Um impulso metafísico
De mergulhar neles num afago
De posar neles como uma gaivota
E partir como eles clandestina
Até esse pôr do sol eterno!...

sexta-feira, março 30, 2007

CHUVA



Agarrada nas asas do vento
Pressenti a chegada da chuva
Só com o meu pensamento
Ela veio pé ante pé, calada e muda
Sem aviso escorreu-me um sorriso
Segredou-me num orvalho baixinho
Murmúrios em burburinho
" Vou banhar-te a alma
Lavar-te a dor dos desamores
e purificar e restituir-te a calma
por isso vou-te arrastar
para a Ilha dos Amores"
Fechei os olhos e deixei-me mergulhar
Nos mistérios insondáveis do mar

VENTO


O vento acariciou-me de mansinho
Enlaçou-me num rodopio
Levantou-me devagarinho
E sussurrou-me ao ouvido...
Tão baixinho que mal se percebia!
"Tu és mato por desbravar
Terra por explorar
Campo por lavrar e semear...
Por isso vou te levar "
Fechei os olhos e deixei-me voar
Para a terra da utopia

quarta-feira, março 28, 2007

My Japanese Name Is...

Your Japanese Name Is...

Rikako Rokujochigusa

DIÁLOGOS IMPREVISTOS


R. e N. encontraram-se por mero acaso. Há tanto tempo que não se falavam!. Que não sabiam um do outro. Os olhos (dos dois) brilharam ao lembrarem momentânea e espontâneamente milhares de "discussões" que em que tantas e tantas vezes se embrenharam. O diálogo foi fluindo naturalmente como se se tivessem visto ontem ou anteontem. Despotelou em mais uma "conversa filosófica" entre eles, como tanto gostavam (que saudades). Inevitável...

- Como vai a vida?
- Vai correndo ...
- Só correndo?!!
- Actualmente só correndo. Quem sabe do futuro.
- O futuro está nas nossas mãos
- Nem sempre ... nem sempre...
- Sempre. Sempre.
- Por vezes deixámo-lo escapar ... porque estamos cegos
- Por isso mesmo, está nas nossas mãos SEMPRE.
- Mas nem sempre ... Há coisas que não estão nas nossas mão, por exemplo as outras pessoas!
- Não querias mais nada ter o futuro dos outros nas tuas mãos. Isso não é o teu filha.
- Pois ... mas por vezes dava jeito ... (principalmente na "correspondência" amorosa
- Para quê?? Dasse nem pensar.
- ... Não estás a entender...
- Ou se está incondicionalmente ou mais vale não estar... vai por mim bébé.
- ...
- Quando digo nas minhas mãos é no sentido de saberes (teres a capacidade de) escolher a pessoa ... (certa)
... E nao se perder tempo com quem não merece a pena!
- Essa cena não pode ser procurada tem que acontecer... digo eu né.
- Pois não. Tens razão, mas dava jeito ter a SORTE de se encontrar. O pior de tudo é quando pensas que encontraste e ela escapa-se por entre os dedos feito areia fina do deserto, sem saberes muito bem nem como nem porquê.
- Pois aí é a providência, o livre arbitrio, a própria vida.. a forma como a encaras a tua personalidade.. tu, tu unicamente. Tu que tens que avaliar e acima de tudo o coração tem que pular... explodir... dizer à mente ((((( é isto tudo burro )))))
- Se não for é porque não era essa pessoa! Quando entenderes isso... vais ser uma pessoa muito melhor com a vida.
- Eu sei já compreendi isso há muito tempo. Culpa dos nossos pais e da sociedade, dessas palermices dos contos infantis com finais felizes que nos impingiram, que nos criaram muitas expectativas e nos fizeram ver um mundo irreal e cor de rosa. Quando (e se) tiver filhos acabaram-se os contos e nada de barbies e merd@s afins ou então nota de rodapé (em letras bem GRANDES)de que são meras ESTÓRIAS. Toda e qualquer semelhança com a realidade será pura e mera coincidência. Ah (suspiro) ... Essa pessoa pura e simplesmente não existe!.
- Ai, nao existe não... Enquanto pensares assim não existe não senhora... podes escrever....
- Somos nós que criamos as expectativas e não os outros (alguém me disse isso há algum tempo! Acho que foi uma espécie de aviso, que eu não soube ler (as entrelinhas) entretanto. Mas o recuo do tempo permite-nos ver e enxergar melhor as coisas.
- Ya mocinha...... um dia vais olhar para trás e vais ver que isso tudo fez o melhor dos sentidos.
- SIM. Vemos melhor... mas por outro lado vamos mudando para pior...
- NÃO. A ave da minerva levanta sempre ao entardecer..... mudamos sempre para melhor... Sempre.
- Em alguns aspectos. Porque noutros não! Por exemplo, hoje em dia estou mais "fria", mais descrédita nas pessoas.
- ...
- E principalmente ... no amor.
- Como queiras, desde que cresças e tentes sempre ser feliz e vertical contigo própria... acreditares ou não nas pessoas é e sempre será um problema teu... que tens que resolver.... porque amor tu não estás mais fria com os outros.
- Tu estás mais fria contigo mesma.
- :( concordo. (pelo menos não tento aproximar-me muito das pessoas, manter distâncias é o melhor.
- Hum .. quando mudares de opinião nao te esqueças, avisa-me ...
- ...
- Sê feliz mocinha..... nem que seja nessa conchita... mas pelo menos sê feliz..
- ...
- ... Estou a tentar...

Despediram-se, R. estava de partida para as Áfricas, outra vez! N. desejou-lhe uma boa viagem. Até uma próxima conversa ... SÊ MUITO FELIZ "mocinho".

segunda-feira, março 26, 2007

A MINHA VIDA


Quando eu era criança
A vida era pura esperança
Mas eu fui crescendo
E a esperança foi-se dissolvendo

Depois veio a adolescência,
Oh meu Deus! Quanta displicência.
Eu só queria liberdade
E nenhuma responsabilidade

Mais tarde eu era uma jovem fogosa
Toda airosa e amorosa
Mas veio a paixão
E arrasou meu coração

Hoje sou uma mulher adulta
Que não se impressiona por um belo vulto
Sou uma mulher madura
E não me preocupo com o futuro

Olhando para trás, de onde estou
Vejo o caminho que trilhei
O mais importante é o que EU SOU
E não a calçada que (para atrás) deixei

Não sinto falta do que não gostei
(Prefiro nem lembrar)
Mas saudades do que poderia e não aproveitei
(Desperdício a ... lamentar)

domingo, março 25, 2007

LEVO-TE


Ah como é bom amar e ser amado!
Sentir o cheiro, o toque
O silêncio que tudo diz
Sentir prazer no prazer do outro
Entregar-se sem barreiras
Nem pudores como se fosse a primeira e a última.
Fazer amor ao ritmo dos corações
Abraçar num abraço que faz esquecer que há um mundo lá fora
Quem me dera ser bandeira desfralda ao vento
E afagar o teu corpo como num lamento
Quero envolver a minha alma na tua
Sentir o teu sentimento
Espalhar as fantasias
Sorrir com este sorriso puro e tão aberto
Sentir nesse sorriso que o mundo
É o sonho que me atrevo a sonhar
Onde não são precisas palavras
Apenas SENTIR
Onde cada silêncio é coberto pelo bater do coração
Quero espalhar por montes
E por vales soprados pelo vento
Que canta uma canção só ouvida por quem ama
Que ultrapassa montanhas
E se deixa levar até onde nunca ninguém foi
Aquele lugar onde os amantes se encontram
E se amam esquecendo que há um mundo à sua volta
Aquele lugar onde o sol sempre brilha
Porque se reflecte nos olhos dos enamorados
Levo-te para o meu sonho
Onde tudo é possível
Onde o amor e a amizade são permitidos
Onde não há barreiras nem tabus
Onde as palavras têm as cores do arco-íris
E os olhares o brilho das estrelas
Levo-te para onde o mar se junta com o céu
E se transforma num azul
Somente visto por quem tem o coração puro
Levo-te para onde não existe som
Além dos sussurrados ao ouvido
Além dos gemidos provocados pela paixão
Pela entrega
Dedos entrelaçados
Corpos enleados numa união total
Beijos trocados
Corpos suados
Odores que penetram
Penetrações suaves, profundas, fortes
Cadenciadas, apressadas, lentas
Quase sem tocar
Vontade de devorar
De explorar
De gritar SOU TUA
De gemer de prazer
De te sentir a tremer
Entregar e "morrer" dentro de nós
Levo-te suavemente até ao mundo
Onde a realidade se confunde com o sonho
Cada instante vivido como se fosse o último

sexta-feira, março 23, 2007

Amor, paixão e sexo




“João amava Teresa
que amava Raimundo
que amava Maria
que amava Joaquim
que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos,
Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre,
Maria ficou pra tia,
Joaquim suicidou-se
e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.”

Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade

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O amor é na maior parte das vezes um jogo de encontros e desencontros, mas um puzzle essencial para a vida. Na verdade o amor move o mundo e o sexo move o amor. O amor faz maravilhas, o amor (não só a fé) move montanhas, etc. Poderia enumerar milhentas "frases feitas". E a paixão onde fica no meio disto tudo? E o sexo?
Como toda a gente anda a queixar-se de mal de "amores" (pelo menos as pessoas que conheço, incluindo eu!), tudo à beira de ataques de tristeza, nervos, ânsias e desespero à mistura, à espera que a "Primavera" chegue de vez!. E coincidência ou talvez não, hoje veio parar-me às mãos um artigo publicado na Máxima, em que especialistas na matéria respondiam a algumas questões que me derem (muito, mas muito, fiquei com os neurónios queimados) que pensar e chegar a estas "doutas" conclusões (para o que me haveria de dar hoje!):

1- A paixão deixa-nos num estado similar ao da adição, foi o que constatou o estudo publicado recentemente no Journal of Neurophysiology liderado pela antropóloga Helen Fisher, da Universidade Rutgers, de Nova Jersey, ou seja, A PAIXÃO É (COMO) UMA DROGA!

2- E há uma altura certa para que a paixão aconteça? , para o sexólogo Allen Gomes (autor do livro Paixão, Amor e Sexo- Publicações Dom Quixote), é possível identificar alguns estados psicológicos prévios que podem levar algumas atracções a transformarem-se em paixão. É o caso “dos estados de tédio, aborrecimento, falta de realização e falta de satisfação com o dia-a-dia, num terreno que depois proporciona o aparecimento de fantasias, da idealização de uma relação e da idealização de alguém”. O facto de a pessoa estar a viver o fim de uma relação, de ficar magoada, ferida e, ao mesmo tempo, haver um forte desejo de ter uma relação diferente é outra hipótese apontada pelo especialista como terreno propício ao aparecimento da paixão. Resumindo, a altura certa será é quando estamos (mesmo) na merd@?!
3-Transformar os amigos em paixões seria a situação ideal, diz Allen Gomes, pois era! Isso seria IDEAL, mas irreal, amigos amigos negócios à parte
4 - Mas o entusiasmo da paixão não dura muito. Nem pode durar. É extremamente desgastante e seria física e intelectualmente insustentável se se prolongasse indefinidamente. “A paixão dura, em média, de 6 meses a 2 anos, se for correspondida. E depois vira amor ou pesadelo. Porque, às vezes, o príncipe por quem nos apaixonámos vira sapo. E vice-versa. O que é preciso é saber fazer a conversão da paixão para o amor”, comenta Maria do Céu Santo, ginecologista, membro da Sociedade Portuguesa de Andrologia, isto é, rematando eu mudam-se os tempos mudam-se as vontades, não é a pessoa que temos na nossa frente que muda, nós é que mudamos a perspectiva de vermos as coisas e o outro e já não detém assim tantas qualidades, mas apenas vão sobressaindo os defeitos, à medida que a tempestade da paixão se vai aplacando.
5 - Uma das principais causas de divórcio é os casais deixarem de fazer amor, comenta Maria do Céu Santo. “A relação não é só a parte sexual. O objectivo não é ter relações sexuais, mas sim fazer amor. E muitas vezes o que as pessoas têm são relações sexuais.”
"Pobre sexo: ou não se faz e sofre-se ou faz-se e sofre-se mais ainda’”, comenta Allen Gomes. Acrescento eu, mais vale só que mal acompanhada, ou se faz como deve ser ou melhor estar quieta, depressa e bem nunca fez ninguém. Há que dar lugar à sedução, imaginação, criatividade e claro disponibilidade. Requer por isso mesmo empenho, engenho e trabalho lol
6 - O fantasma da normalidade não deve ser para aqui chamado. “A valorização da normalidade sexual deve muito às aspirações de conformidade social.Ou seja, a forma como as pessoas se sentem e vivem a sua sexualidade resulta muito daquilo que julgam encontrar nos outros, de mecanismos de comparação social. E também é "uma sexualidade olímpica”, sublinhou o psiquiatra Manuel João Quartilho (Cap. Sexualidade e Construcionismo Social do livro A Sexologia - Quarteto). A preocupação excessiva com a normalidade pode minar uma relação. Ela deve estar nos laços de amor e cumplicidade do casal, e não fora dele. Resumo meu: o que se faz em 4 paredes não diz respeito a ninguém ou entre "marido e mulher" não metas a colher, segredos de alcova movem moinhos, e em vez de pensarmos no que os (e como) outros fazem assim ou assado, a galinha da vizinha não é melhor que a minha. Cada pessoa é ÚNICA. NORMALIDADE será que existe?!!! Se existe então quero ser anormal
Lembrei-me desta famosa música de Rita Lee e Roberto Carvalho - AMOR É UM LIVRO

Amor é um livro
Sexo é esporte
Sexo é escolha
Amor é sorte

Amor é pensamento, teorema
Amor é novela
Sexo é cinema

Sexo é imaginação, fantasia
Amor é prosa
Sexo é poesia

O amor nos torna patéticos
Sexo é uma selva de epiléticos

Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval

Amor é para sempre
Sexo também
Sexo é do bom...
Amor é do bem...

Amor sem sexo,
É amizade
Sexo sem amor,
É vontade

Amor é um
Sexo é dois
Sexo antes,
Amor depois

Sexo vem dos outros,
E vai embora
Amor vem de nós,
E demora

Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval

Amor é isso,
Sexo é aquilo
E coisa e tal...

quarta-feira, março 21, 2007

METADE



"Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que tristeza.
Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor.
Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é a platéia e a outra metade, a canção.

E que minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metade... também."


Oswaldo Montenegro

http://www.oswaldomontenegro.com.br

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Este poema fez-me pensar e divagar.
Metade duma laranja tem o mesmo sabor açucarado que a laranja inteira. Na maior parte do tempo não sabemos como saborear a vida aos bocadinhos, aproveitando todos os pequenos, bons e singulares momentos que ela nos oferece, porque pensamos que temos muito pouco e que não conseguimos alcançar tudo. É urgente aproveitar o dia, todos os sorrisos, todas as gargalhadas, todos os pequenos momentos amenos, "insignificantes" pequenas gotas no oceano, para construirmos peça a peça o grande puzzle da felicidade… E perante um copo com água pelo meio, aprender a vê-lo meio cheio e esquecer que está meio vazio. No fundo, às vezes, basta mudar a (nossa) perspectiva das coisas para sermos mais felizes…

«La moitié d'une orange goûte aussi sucrée qu'une orange entière» Johann Wolfgang von Goethe

segunda-feira, março 12, 2007

A MENINA DO MAR


"- Estou tão feliz, tão feliz, tão feliz!
Pensei que nunca mais te ia ver.
Sem ti o mar, apesar de todas as anémonas, parecia triste e vazio.
Até que um dia o Rei do Mar deu uma grande festa.
Convidou muitas baleias, muitos tubarões e muitos peixes importantes. E mandou-me ir ao palácio para eu dançar na festa.
No fim do banquete chegou a altura da minha dança e eu entrei na gruta onde o Rei do Mar estava com os seus convidados, sentado no seu trono de nácar, rodeado de cavalos-marinhos.
Então os búzios começaram a cantar uma cantiga antiquíssima que foi inventada no princípio do Mundo.
Mas eu estava muito triste e por isso dancei muito mal.
Porque é que estás a dançar tão mal? - Perguntou o rei do Mar.
- Porque estou cheia de saudades - respondi eu."


[In A menina do mar de Sophia M. Breyner]

P.s."porque estou cheia de saudades..."
Saudades da normalidade...
Saudades de ter rumo...
Saudades de sorrir
Saudades da liberdade
Saudades da simplicidade
Como se faz para voltar a trazer para dentro de nós, o que um dia já tivemos?...

Por isso despeço-me de todos solenemente
Um adágio, um adeus, um aceno
Todos os signos de um fim premeditado.
Não se pode mais sentir (e escrever) o sentido das coisas, pois as coisas perderam os seus sentidos e sentimentos no meio das cores...
Até sempre ...

sábado, março 10, 2007

QUERIA SER...


Queria ser ...
Música para encantar os teus ouvidos.
Soneto para te imortalizar.
Voz para te poder entoar.
Malmequer que bem te quer
Dia para te despertar
Noite para te embalar
Mar para te levar para a ilha dos sonhos.
Terra para semear no teu corpo a felicidade.
Céu para encher a tua vida de arco-íris.
Ar para sempre viver em ti.
Água para lavar as tuas mágoas.
Fogo para queimar a distância que nos separa.
Brisa para te revolver os cabelos.
Sol para aquecer o teu corpo.
Lua para entrar pela tua janela
Estrela para brilhar nos teus olhos.
Queria ser ...
...TUA!

sexta-feira, março 09, 2007

Question and answer


He sat naked and drunk in a room of summer
night, running the blade of the knife
under his fingernails, smiling, thinking
of all the letters he had received
telling him that
the way he lived and wrote about
that --
it had kept them going when
all seemed
truly
hopeless.

Putting the blade on the table,
he flicked it with a finger
and it whirled
in a flashing circle
under the light.

Who the hell is going to save
me?
he thought.

As the knife stopped spinning
the answer came:
you're going to have to
save yourself.

Still smiling,
a: he lit a cigarette
b: he poured another drink
c: gave the blade another spin.
------- from The Last Night of the Earth Poems by Charles Bukowski --------(1920-1994)

PASSOS PERDIDOS



(foto João Redondo)


Sabes porque eu fujo de ti?
...
Porque tenho medo de mim
Receio de, ao te encontrar,
Me perder no fim
E não mais me achar

terça-feira, março 06, 2007

Não me ler



Não escrevo para me ler.
Temo que as palavras me escapem por entre os dedos
Feito areia fina do deserto
Que fujam a sete pés ou afluam à superfície;
Que se esgueirem por entre as brechas da minha memória
E desatentas resolvam chamar-me à atenção
Me digam as verdades escondidas que quero calar
Me ralhem e me desnudem e possam dizer-me o que não quero escutar
Por isso, e nestas fases, tranco-as a sete chaves
E alimento-as a pão e água para que definhem nas minhas masmorras profundas e escuras.
Quero-as fracas, quebradiças e resignadas à sua sorte.
Encarceradas e prisioneiras
Condenadas à morte
Para que não se amotinem nos assaltos das minhas entranhas
Nem que desfaçam as minhas amarras que tanto trabalho me deram a compor
E onde me contenho a custo e esforço.
A ferro e fogo, a sangue e lágrimas
Não escrevo para me ler.
Calo-me às letras: evito as profundas frases
Nas quais tendo a estender-me e a perder-me
Contorno as palavras, escrevo, dito e faço tudo ao contrário
Do que habitualmente me revejo
E faço de conta que não estou em casa.
Enxoto adjectivos, sujeitos e complementos,
Como pedintes que espreitam à socapa pelo óculo da porta.
Desactivei-me temporariamente.
Deletei-me por fim
E fiz um restart
Receio que as palavras, matreiras, rafeiras
Me fintem, me levem ao engano, ao absurdo
Ou pior ainda, me encantem feito sereias,
Estendendo-me na mão conchas, flores e colares
Oferecendo-me a bandeira branca da paz
Ou que me deiem a sua outra face.
Não suportaria!
Não quero que se insinuem,
Nem que se dispam e rodopiem no varão da minha imaginação doente.
Feito stripers sensuais que seduzem, aquecem e depois desaparecem
Tenho medo do que possa encontrar de mim, nelas.
Tenho medo de te procurar em ti, nelas.
Tenho medo de me encontrar a mim, nelas
Não escrevo para me ler...
Escrevo para não me ler

sábado, março 03, 2007

A CAIXA DE PANDORA




Insisti
E... reabri
A caixa de Pandora
E agora?!...

quinta-feira, março 01, 2007

SABER (A) MAR


Sem leme, sem velas,
Sem remos, nem rumo
Navegando no mar das sensações
As ondas arrastam-me até ti.
Desembarco na enseada
Onde tu me esperas
Livre, solto,
Ávido de mim
Beijas os meus lábios de sal
Sentes o calor da minha pele
Presentes o meu torpor
Navegas nas ondas do meu corpo
Sem pressas, ao sabor da maré
Os teus olhos afogam-se nos meus
Teus cabelos ao vento
Valsam melodias no meu rosto
Teu cheiro sabe a maresia
Pecado meu, sem heresia
Teus gemidos são cabo de tormentos
São sussurros, são lamentos
Das horas perdidas e ausentes
Na praia mar
Mergulhamos no prazer dos sentidos
Que a brisa leve refresca
O ...teu ...meu... corpo que queima
Sossegas finalmente, e dizes:
"Encontrei o meu Norte!"
Sorrio levemente em transe
(coro)e choro
Os meus olhos reflectem
O brilho da lua que sorrie só para nós
Em múrmurio, em tom de proa
Quase deixo escapar:
"Encontrei o meu farol!"

ESSÊNCIA DO AMOR


Foto: The Love Embrace of the Universe, the Earth (Mexico), 1949 by Frida Kahlo

A essência do Amor
Está na simultaneidade:
Do riso, do olhar,
Do partilhar e encontrar
E não mera veleidade
Na junção de dois em um
Na união de um em dois ...
Corpos entrelaçados
Por minutos trespassados
Laços e enlaços tricotados
Em abraços de lábios cerrados
Malhas, teias e meias
Que se tecem e nos enlouquecem
Sem noção da percepção
Onde começa um ...
Onde termina o outro...
Como prolongamento de nós mesmos
O Amor é pura essência...