Vejo olhos. Sem contexto, sem tempo castrador. Alguns acolhem-me com o sorriso de quem abre a porta a um amigo há muito desaparecido, outros afastam-se e escondem-se entre o espaço vazio, porém inequívoco, que nos separa.
Vejo olhos, que saltam no escuro, lançando-se no abraço de outro olhar, outros ofuscados com a luz do contacto humano, procurando as sombras e evitando a vida sempre com medo.
Vejo olhos. Singulares ou comuns, banais não vejo nenhuns.
Vejo olhos. Olhos tacteantes e curiosos de sentir cores e amores variegados. Outros anseiam ser olhados, murmurados entre sorrisos de desejo. Alguns procuram no horizonte as palavras que gostariam ouvir de quem amam, sorvendo o belo dissipado pela imagem como um gelado saboroso que se derrete antes de ser provado.
Vejo olhos... vejo olhos...Inclinada sobre aquele portão que dava para uma série de prados onde as cores ondulavam, mas este ser não me respondeu. Não me ofereceu oposição. Não tentou construir qualquer frase. Nem sequer cerrou os punhos. Esperei. Escutei. Nada surgiu, nada. Possuída pela sensação de ter sido abandonada, soltei um grito.
Vejo olhos... Agora, nada mais existe. Não há pensamento ou barbatana que quebre a fixidez deste mar imenso. A vida destruiu-me. As palavras que digo já não têm qualquer eco... ou destinatário
Vejo olhos... sou figura enfaixada, e ocupo pouquíssimo espaço.
Vejo os meus, nos teus olhos... Teus nos meus ...
Não vejo... não vejo nada ...
PS: Os meus relacionamentos são sempre baseados na confiança...
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