terça-feira, março 15, 2011

(Elogio) da distância

(Na verdade) Poucas pessoas nos conhecem ... (n)a essência ...


«Na fonte dos teus olhos
vivem os fios dos pescadores do lago da loucura.
Na fonte dos teus olhos
o mar cumpre a sua promessa.

Aqui, coração
que andou entre os homens, arranco
do corpo as vestes e o brilho de uma jura:
Mais negro no negro, estou mais nu.

Só quando sou falso sou fiel.
Sou tu quando sou eu.
Na fonte dos teus olhos
ando à deriva sonhando o rapto.

Um fio apanhou um fio:
separamo-nos enlaçados.
Na fonte dos teus olhos
um enforcado estrangula o baraço.

Paul Celan, in "Papoila e Memória"
Tradução de João Barrento e Y. K. Centeno

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