Não podemos voltar atrás e fazer um novo começo, mas podemos recomeçar e fazer um novo fim!
( Ayrton Senna)
Enquanto aprecio o final da noite, que me espreita pela janela e saboreio uma caneca de chá, dou uma olhadela às noticias, sentei-me aqui para repensar um pouco a minha vida e na vida de tantas pessoas como eu, que sentem que mais um dia terminou e esperam que outro amanheça. Muitas irão dormir com a cabeça cheia de preocupações, outras com a alegria estampada no rosto, outros ansiosos, outras cheias de sonhos e planos...Enfim cada ser humano tem as suas naturais preocupações e alegrias!
Enquanto engulo mais um gole de chá, penso no quanto com o passar dos anos as nossas prioridades se vão alterando.
Até determinada altura é a escolha do curso que se quer tirar, o primeiro emprego, as primeiras contas para pagar, os primeiros namorados, o casamento, os filhos a primeira casa, mas em cada acto da nossa vida, temos sempre um (mesmo) objectivo: encontrar a felicidade.
Em cada pequeno gesto, em cada pessoa que se cruza no nosso caminho, esta procura está sempre presente. Quando já temos tudo para sermos felizes por vezes continuamos a sentir um vazio e reparamos que apenas tivemos fugazes momentos ao longo do nosso percurso, então começamos a acreditar que ela jamais se vai cruzar, connosco, nesta longa e ingrata estrada da vida! Tantas vezes desistimos porque pensámos já não ter tempo ou paciência, e assim vamos continuando o nosso percurso sem felicidade nem ânimo.
Tudo seria mais fácil se vendessem paciência e ânimo nos hipermercados, nas farmácias ou noutro lugar qualquer! A vida seria mais calma se soubéssemos tomar a dose certa. Irritávamo-nos menos nas filas de trânsito, no emprego, em casa, e talvez a tão desejada tranquilidade vestida de felicidade viesse ao nosso encontro.
Quando todas as nossas prioridades acontecerem e continuarmos a sentir um vazio que nos consome por dentro e não nos deixa sonhar, só temos dois caminhos: ou nos acomodamos ou continuamos a nossa viagem por outras estradas. Estradas desconhecidas, incertas, mas que darão um novo alento ao nosso sentir.
Nem que para isso seja necessário recomeçar (tudo) de novo! Deixar para trás, uma vida, bens materiais e concluirmos que a Felicidade não passa pelo outro, mas por nós!
Só assim seguiremos em direcção à Felicidade se acreditarmos que nunca é tarde para recomeçar.
Quando gostamos de nós aprendemos a fazer o nosso caminho. Não vamos correr mais atrás das borboletas, mas cuidar o jardim que há dentro de nós e aí... sim .. elas virão ao nosso encontro! Certamente uma poisará porque encontrará um jardim bem tratado: com carinho, amor e auto-estima. Se assim não for nenhuma poisará por muito tempo. Todas levantarão vôo porque se sentem perdidas num jardim meio desnudado, sem flores a desabrochar, mas a morrer em cada novo amanhecer.
Não é fácil recomeçar, então ficamos à espera que tudo se recomponha, como se o tempo fosse o obreiro de todas as obras.
Toda a minha vida corri atrás das borboletas e esqueci-me de cuidar do jardim que há dentro de mim, deixei murchar todas as flores, caíram todas as pétalas até que já não haver uma única flor. Tinha dentro de mim um jardim de Inverno, em que apenas os troncos estavam de pé e pelo chão, pétalas sem vida.
A borboleta que habitava esse jardim já não tinha vida. Há muito que o sobrevoava como um fantasma. Pouco havia em comum entre mim e essa borboleta apenas a acomodação! Ela tinha medo de perder o porto de abrigo, de procurar outro jardim e eu tinha receio de não ter forças para semear novas flores…
Mas um dia num acto de loucura, lucidez ou coragem, achei que este jardim ainda poderia ter vida, deixei tudo para trás e estou a aprender a colocar novas sementes num jardim ainda desnudado. Sozinha, sem nenhuma borboleta por perto.
Só precisamos ter alguma paciência, não importa o momento em que nos cansámos, o que importa é termos a coragem de recomeçar e fazer um novo fim!
Sem pressas vou caminhando, passo a passo, um pé a seguir ao outro, como uma criança que dá os primeiros passos - atabalhoados - ...
Tenho a consciência que terei pela frente uma longa travessia no deserto com algumas (muitas) tempestades de areia! Só que não posso nem quero voltar atrás. Caso contrário que sentido teriam as lágrimas que derramei? As lutas que travei? Os caminhos que desbravei?
Recomeçar de novo é dar uma nova hipótese a nós mesmos de renovar o jardim que habita dentro de nós, aprender com os erros do passado, mas mais que renovar ou aprender é voltar a acreditar que temos futuro!
Uma porta se fechou, a da estabilidade. Há momentos em que o desânimo quer entrar, mas tento não deixar! Porque este será apenas o início de um novo caminhar. O caminho que escolhemos em busca da paz interior e do sonho renovado.
O meu chá terminou, olho lá para fora e vejo o lua a esconder-se entre as nuvens, como nós tantas vezes fazemos na nossa vida, escondemo-nos atrás de falsas realidades, de falsos muros que a qualquer momento se desmoronam e nós ficamos perdidos, porque não soubemos saltar o muro antes de ele cair...e tentar uma vida nova do outro lado! Mas o Ser humano é assim mesmo tem medo das mudanças, o desconhecido assusta-o! Mesmo que seja para melhor, mas como vamos saber o dia de amanhã ? O que é certo ou errado? Só arriscando...só tentando...
Eu neste momento só tenho uma certeza vou buscar uma nova caneca de chá ... (e tentar dormir...).