«Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte. »
Alexandre O'Neill
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte. »
Alexandre O'Neill
OBS: Dizem que este poema foi inspirado na surrealista francesa, Nora Mitrani, a paixão dorida da sua vida. A partida de Mitrani para França causa um enorme alvoroço na vida de O' Neill, já que os seus familiares, conscientes desta relação, interpõem-se, chegando a utilizar um agente da P.I.D.E para lhe retirar o passaporte, impedindo assim o poeta de visitar a amada. É neste período turbulento que Alexandre O´Neill escreve o poema Um Adeus Português, expressando aqui toda a sua mágoa, verbalizando toda a sua revolta interior: “Nos teus olhos altamente perigosos/ vigora ainda o mais rigoroso amor/ a luz de ombros puros e a sombra/ de uma angústia já purificada/(...) Nesta curva tão terna e lancinante/ que vai ser que já é o teu desaparecimento/ digo-te adeus/ e como um adolescente/ tropeço de ternura/ por ti”. Nora Mitrani suicidou-se em 1961 e O´Neill perde aqui a sua mais absoluta concretização do amor: "Para ti o tempo já não urge/ Amiga/ Agora és morta/ (Suicida?) Se eu pudesse dizer-te: - Senta-te aqui/ nos meus joelhos, deixa-me alisar-te, / Ó amável bichinho, o pêlo fino“. Conta-se que o poeta nunca mais encontraria Nora Mitrani “quando a fui procurar em Paris, já tinha morrido”- mas que esta chegou a ler o Um Adeus Português. A resposta que esta lhe deixou terá sido: “Li o teu Adeus. Fiquei atrozmente comovida”.
Todos temos uma paixão dorida e nunca esquecida!
2 comentários:
Vejo que você voltou a postar... parece que invertemos, pois eu é que não tenho navegado por estes mares pra postar alguma coisa.. auhuiahouiaouih
Assim que eu conseguir um tempinho, vou passar aqui e ler os posts... mas por hora digo que fico feliz de você ter 'voltado'! ^^
Beijo =)
plenamente de acordo.
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