segunda-feira, julho 27, 2009

A Canção das Perdidas


I

Quem por amor se perdeu
Não chore, não tenha pena.
Uma das santas do céu
- É Maria Madalena…

II

Minha mão foi o que eu sou.
Eu sou o que tantas são.
Que triste herança te dou,
Filha do meu coração!

III

Meu pai foi para o degredo,
Era eu inda pequena.
Se não morresse tão cedo,
Morria agora - de pena…

IV

E há no mundo que afronte
Uma mulher quando cai!
Nasce água limpa na fonte,
Quem a suja é quem lá vai…

V

Aquele que me roubou
A virtude de donzela
Se outra honra lhe não dou,
- É… porque só tive aquela!

VI

Nós temos o mesmo fado,
Ó fonte de água cantante:
Quem te quer, pára um bocado,
Quem não quer, passa adiante…

VII

O meu amor, por amá-lo,
Pôs-me o peito numa chaga:
Deu-me facadas. Deixá-lo.
Mas ao menos não me paga!

VIII

Nem toda a água do mar
Por estes olhos chorada,
Daria bem a mostrar
O que eu sou de desgraçada!

IX

Como querem ver contente
Este país desgraçado,
Se dão só livros à gente
Nas escolas do pecado…

X

Dormia o meu coração
Cansado de fingimento.
Bateste-me, e vai então
Acordou nesse momento…

XI

Se aquilo que a gente sente,
Cá dentro, tivesse voz,
Muita gente… toda a gente
Teria pena de nós!

Augusto Gil

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